cronicas

Leiam como se fosse um livro. São materias selecionadas publicadas ao longo da minha vida em alguns jornais e revistas. A minha unica intenção é, além de proporcionar diversão e entretenimento fazer com que voces conheçam um pouco mais do que penso a respeito de quase tudo o que nos cerca, e pra que depois ninguém ouse dizer que eu não tenha feito a minha parte. Sejam bem vindos!!!

6 de ago. de 2008

Considerações Fúnebres Radicais

Cuidado, perigo! Os radicais podem ter razão! E eu serei cremado se assim respeitarem a minha vontade. Logo, portanto, não me meterei em vãs discussões politico partidárias ambientalistas. E pronto, ou ponto final! E depois, também, essa estória de inauguração do novo cemitério já tá mais prá folclore do que prá esses amargos tempos realistas. Então me declaro publicamente radicalmente contra qualquer tipo de cemitério, seja neo-modernista ou surrealista o seu estilo arquitetônico, seja em cima dos mananciais ou no topo do Morro Agudo... Mas me parece bastante óbvio que a nossa antiga necrópole ( termo arcaico, e há muito em desuso, mas muito comumente usado na nossa já anciã rádio local ) passa, há tempos, por um assustador processo de deturpação dos nossos queridos entes falecidos. E nem é mais perturbação. É um tal de tira defunto daqui, bota acolá e enterra aqui, desenterra de lá... E teve até defunto indo parar em caçamba papa entulho. Tão brincando com coisa séria... Ninguém mais pode dizer com exatidão de que aquele cadáver que ali jaz é realmente daquele ou daquela cujo nome enfeita a lápide sem que se faça um minucioso exame de DNA. Conclusão: tem gente rezando pro santo errado... Vai ver por isso não desempaca... E isso sem falar na possibilidade de se misturarem as ossadas. É perna dum com braço de outrem... Se forem amigos, tudo bem! Mas se não se bicavam quando vivos, o que dirão depois de mortos? Sem contar a extenuante tarefa digna de grandes generais estrategistas, que é a de transportar um caixão, diga-se de passagem, sempre muito pesado, por entre as catacumbas amontoadas e sem nenhuma sinalização que indique o caminho correto a se tomar, se é que há. Isto é um verdadeiro furdunço tétrico!!! Por favor não ria! É caso prá chorar. E ainda mais em um cortejo fúnebre... É, o nosso velho romântico e assombrado cemitério dos bons tempos da minha infância, já deu o que tinha que dar. Disso eu não posso discordar. Engraçado, e agora me ocorre que ele sempre ficou ao lado da estação de tratamento da água distribuída pras nossas casas. E será que assim pode??? Ou essa discussão é previlégio apenas no que se refere ao NOVO? Com tanto defunto saindo pelo "ladrão", sei não... E eu não vejo muita diferença em se ter um cemitério ao lado da nossa estação de tratamento de água ou ao lado dos lençóis freáticos da nossa captação. Perdoem a minha ignorância. Agora voces já podem começar a entender a minha repulsa radical quanto a ser favorável a construção de cemitérios, seja aonde for. Fosse em épocas 'brabas' das paranóias dos tempos ditatoriais, poderiamos até dizer que há uma conspiração sórdida, maquinada nas surdinas do poder , de nos contaminar a todos e nos mandar o quanto antes mais cedo para o ALÉM... Aí é quando o novo se tornará velho. E o mesmo problema não resolvido voltará à tona. Seria como perpetuá-lo... E mesmo que se inaugure o NOVO, de fato, num futuro bem próximo ele já será VELHO! Esse seria, no meu fraco modo de entender, o verdadeiro CERNE real da questão, e convenhamos, bastante funesta. Um forno crematório surge então como uma solução alternativa, inteligente e definitiva! E não me venham com dogmas religiosos! Nessa não caio mais. O que se deve fazer com um corpo sem vida é um problema pragmático e não espiritual. E mesmo por que há muita gente na fila de espera por um transplante, implorando por um orgão vital que será comido por vermes. E a cremação de cadáveres pode ser um avanço positivo na conscientização da população quanto a essa premente questão, uma vez derrubadas as barreiras do imaginário preconceituoso, essa aceitação se fará de maneira muito mais rápida e menos dolorosa. Trocando em miúdos, ao corpo cremado não farão falta alguma os seus orgãos mais importantes, como o fígado ou o coração, por exemplo, sepultando de vez, me desculpem o trocadilho, qualquer idéia de ressurreição que ainda se possa ter enraigada na mente. E há muito até o PAPA sabe que isso nunca ocorrerá. Do pó ao pó!!! E cinzas são o que??? E cinza quase rima com pinga... Então só tomando uma! Um cadinho pro santo e uma tantada pro amigo Zé Lagoa, que foi morar do lado de lá, onde toda essa discussão não mais se faz necessária... E o folclórico folclore guaxupeano cada vez mais empobrecido!


publicada em maio de 2003

Um comentário:

bisteca disse...

adorei este texto, hahahahahaha
realmente, tudo é uma questão de perspectiva. Hipocrisia a não implantação do crematório. Agora o cemitério novo virou ótimo local pra pitar umzinho e olhar o céu, hahahahaha e, assim, evitar o tédio dos defuntos. Porque o papo ali, é brabo!!
putz, é arraigado, não enraigado, arruma!
bjs